terça-feira, 23 de outubro de 2007

Viver não dói

Nossa dor não advém das coisas vividas,mas das coisas que
foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por
amor?O certo seria a gente não sofrer,apenas agradecer por termos
conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e
que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos
por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos
a sofrer pelas nossas projecções irrealizadas, por todas as cidades que
gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por
todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos, por todos
os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não
compartilhamos. Por todos os beijos cancelados,pela
eternidade. Sofremos, não porque nosso trabalho é desgastante e paga
pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao
cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.Sofremos
não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em
que poderiamos estar confidenciando à ela nossas mais profundas
angústias e ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos,
não porque nosso time perdeu,mas pela euforia sufocada. Sofremos não
porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de
nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,todas aquelas com
as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.Como aliviar a dor do
que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos
e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que
o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não
usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento, faz perder também a felicidade. A dor é inevitável.O
sofrimento é opcional. Autor:
(Carlos Drummond de
Andrade)

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