domingo, 13 de setembro de 2009

Um dia de palhaço




Nos recuados anos oitenta, precisamente o de 1983, resolví pedir demissão de um emprego de doze anos na falecida Telern-Telecomunicações do Rn,hoje, Telemar, onde havia exercido as atividades de técnico em telecomunicações. Sendo oriundo da Escola Técnica federal do rn, Etfern, da primeira turma do curso de Eletrotécnica e o primeiro técnico com diploma a ingressar no quadro dos empregados da Telern, sentia-me subaproveitado na minha capacidade profissional, haja vista que a empresa, com a abertura política se tornara um antro de bajulações e politicagem: quem mais fazia menos merecia. Joguei, então, doze anos de experiência pelo ar.
Trazia comigo um diploma de economista, curso feito na UFRN. Era tudo que tinha na vida. Resolví, então, ver se me colocava no mercado de trabalho, achava-me preparado, tinha levado a sério a universidade.
Um certo dia, já desempregado e aflito, em estado desesperador, soube que a Caern, companhia de água e esgoto do rn, estava precisando de economista e que faria uma seleção. Fui até a empresa, me inscreví, marcaram o dia dos testes. Neste intervalo, noite e dia, passei estudando, revendo tudo quanto havia estudado.
No dia aprazado lá cheguei, me identifiquei, fui orientado a ir até uma sala na parte térrea do prédio, na época funcionava na ribeira. Um senhor veio me atender, não me lembro o nome, sei que era mulato, olhos acinzentados, tipo cascavel, me olhando de soslaio, pediu que sentasse, no que atendí. Perguntou-me de onde eu era, respondí. Também achando com o direito de perguntar, devolví a pergunta, ele disse que era de Alexandria, rn. Perguntei pelo restante dos candidatos, ele me disse que não tinha. Foi aí que vibrei. Agradecí a Deus pela oportunidade de ingressar numa nova vida profissional. Achei que o teste era apenas uma entrevista, pois antes de 1988, podia-se entrar no Estado sem concurso.
Dando continuidade a entrevista ele perguntou se eu tinha conhecimento em OeM, Organização e Método. Era uma matéria nova para época. O curso de economia não tinha, era uma matéria do curso de administração. Desolado respondí que não estudei OeM na universidade e que o que sabia era através de revistas do ramo. Ele com um risinho, daqueles de canto de boca, fez mais algumas perguntas, mostrando não saber de nada e me pediu que aguardasse o resultado. Ví que tudo esfriou.
Saindo da entrevista procurei alguém com força política. Corrí para falar com dona Francisquina Dias, pessoa de boa índole, secretária do Governador. Acolheu-me com ternura e disse que o que fosse possível faria e fez. Também, procurei um primo político, estava tão angustiado que enchi o saco e torrei a paciência dele. Acho que até hoje ele não me suporta, pensando que eu vou pedir para entrar na Caern. Peço-lhe até desculpas, pois um homem afogado se agarra até com um jacaré. E foi o que eu fiz.
Passados alguns dias saiu o que o risinho de canto de boca prenunciou. Adeus! E nada mais.
Foi o dia que mais me arrenpendi na vida, um dia de palhaço.
Depois de alguns anos fui visitar os amigos que havia deixado na Telern, diga quem eu encontro "trabalhando" lá? Ele mesmo o homem que me entrevistou. Perguntei aos amigos sobre ele e me responderam que era um incompetente, um soberbo, ninguém gostava dele e estava prestes a ser demitido e foi.
Hoje, não guardo mágoa de ninguém. Pelo contrário esse dia de palhaço me fez levar a vida com mais seriedade. Os ventos contrários ajudaram a pipa subir.
Tadeu Arruda Câmara

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