sexta-feira, 23 de novembro de 2007

De Potugal

Viver... Sóbrio!
Li, em tempos, que a vida tal como ela é não vale a pena ser vivida. Era um pouco por ter esse modo de pensar que comecei a usar o álcool, já não como algo que me desinibia e me fazia sentir integrado, mas como compensação para a minha desilusão ao saber, ao sentir, que o mundo não era como eu desejaria que fosse que o mundo não girava à minha volta, que as pessoas não reconheciam como eu era "diferente" não me dando assim o devido valor, etc., etc., etc...

O meu trajeto, assumo-o agora por já me sentir parte integrante de um todo e não mais uma célula sozinha, foi e é igual ao de tantos companheiros que, quando libertos da escravidão do álcool, puderam, com essa liberdade e através da prática dos Passos, chegar a um conhecimento mais profundo de si mesmos.
No entanto, eu sei que esta liberdade é e será sempre uma liberdade condicional. Pois por mais indiferente que me sinta hoje perante ao álcool, sei perfeitamente que ele estará sempre à minha espera, para me levar novamente ao estado de solidão e desespero que fez com que, com a ajuda de um companheiro, colega de trabalho e já com vários anos de recuperação, eu fosse procurar ajuda, primeiro nem um centro de tratamento e depois nos grupos de AA.
Sei também que não é fácil, para alguém que ainda se sente um agnóstico, praticar alguns dos Passos, principalmente aqueles que sugerem uma entrega a Algo incognoscível.
De qualquer modo, aos poucos e poucos e com a ajuda dos companheiros e de muito ler, vou chegando a um ponto em que procuro simplificar as coisas, dando valor a pequenos gestos e acontecimentos que anteriormente passavam ao lado do meu egocentrismo, e tenho momentos em que já sinto que a minha vida tem sentido e que, apesar de todos os problemas e contrariedades que fazem parte da existência, é muito bom VIVER... Sóbrio!
Alcoólicos Anônimos Portugal – Revista “Partilhar” nº. 23, 24 e 25. 3º Trimestre

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