sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Luar em Muriú (Tadeu Arruda Câmara)


Hoje quando os últimos raios do sol se rendem, em 'dégradé', ao crepúsculo, dando adeus ao azul do dia, mergulhando no escuro da noite, vêm-me os últimos pensamentos do dia, fazendo-me refletir, a todo o instante, sobre a vida. Penso nos caminhos traçados, que o destino muitas vezes nos presenteia. Não sei por que razão os ensinamentos de meu pai vêm com força abrir meus olhos. Eles vêm como um carão: “Eu lhe avisei!” Pensar em meu pai é mesmo que repassar na memória os valores éticos que a dura educação dada por ele nunca se desatrele dos trilhos morais que sempre levei a vida.
Chegando aos sessenta anos, começam as indagações: como está correndo rápida a vida! Os cabelos brancos estão chegando como se a neve do tempo dissesse que o inverno da vida não tarda chegar. Aqui da varanda da casa que escolhi para passar a velhice, na minha querida praia de Muriú, fitando o horizonte, escuto a voz do vizinho dizendo que a noite é de lua cheia. Quantas e quantas luas cheias eu vi na vida, mas nenhuma foi tão presente como a desta noite. Realmente, ela apareceu mais dourada do que de costume. Deslizando diante de meus olhos, trazendo lembranças dos tempos de menino, mostrando que o homem chegou até ela, mas nada pode fazer, sua exploração continua restrita aos poetas e apaixonados. Não sei por que, nesta noite, vejo a lua como se estivesse vendo pela primeira vez. Tudo nela é diferente. Deus parece que quis falar comigo. Comecei a sentir a força criadora dando alento a um ateu que, em instantes, começava a acreditar num Deus Onipotente, Onisciente e, acima de tudo, justo. Um Deus que dizia pra mim que tudo na vida se sente e muito pouco se explica. Foi a partir daí, que entendi o quanto o homem é insignificante perante o universo. Realmente, um grão de areia.

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