sábado, 22 de setembro de 2012

ARTIGO


Por Ricardo Sobral
O tiro saiu pela culatra.
Um certo político, movido por uma ambição sem freios, estava determinado a todo custo quebrar um trato com um seu parceiro. Entretanto, não havia jeito de encontrar uma desculpa. O parceiro, correto e leal, não dava o menor motivo.
O tempo passava e nada dele conseguir uma justificativa convincente. Já estava resolvido a quebrar o trato imotivadamente, quando sua esposa interveio radicalmente:
- Não faça isso com nosso amigo. Ele tem sido correto com você todos esses anos. Além do mais, devemos a ele muitas atenções, ou não lembra mais?
Diante de argumentos tão irrefutáveis, não teve outra alternativa senão recuar; mas, no íntimo, não desistiu. Mantinha acesa a esperança de surgir um motivo a qualquer hora. Não tinha mais interesse na manutenção do trato.
Certo dia concebeu um plano e lhe deu curso. Era simples: intrigar sua mulher – que sabia ciumenta e insegura – com o parceiro.
Calculou os riscos. No início ela pode até ficar furiosa, mas aos poucos tende a abrandar, pois nunca teve coragem de separar. Num terceiro momento, ela vai canalizar sua ira paro o parceiro. É a hora que vou quebrar o trato sem resistência nenhuma.
Passou a pedir ao parceiro para busca-lo em casa. Dois quarteirões depois se separavam. Nessas oportunidades, se comportava de modo a dar a entender a sua esposa que estava farreando. Tudo com o intuito de intriga-la com o parceiro a fim de poder quebrar o trato sem traumas em casa.
O plano ia bem até que um dia as duas esposas se encontraram no shopping.
- Mulher, estou com um problema muito sério lá em casa.
- Mesmo? – perguntou a esposa do alcaide.
- Faz mais de ano que meu marido está com disfunção erétil. De início até desconfiei do coitado, atribuindo-lhe pulos de cerca. Mas logo o médico me disse que é consequência da diabetes e da pressão alta.
Um advogado, parente de uma delas, ao ouvir a conversa, não se conteve e comentou:
- Esse é o tipo do crime impossível, pois a arma do ilícito não estava funcionando.
A mulher do político ardiloso, então, lembrou-se de uma frase predileta de seu marido:
- Meus conterrâneos, voto é como santidade: é a metade da metade.

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