quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Aniversário!
Hoje faz vinte e seis anos que consegui o melhor dos meus divórcios: separei-me, em definitivo, da bebida. Foi bom em alguns aspectos, tive momentos felizes, fui boêmio, curti serestas quando Natal ainda era uma cidade pequena e a bandidagem resumia-se a roubo de galinha. Praia -do -meio era minha preferência sempre em finais de farras, vindo das boates onde me encontrava com as antigas namoradas construindo sonhos que ainda hoje tremulam em minha memória como cobranças de juramentos não cumpridos.
A bebida, em minha vida, foi alegria e tristeza ao mesmo tempo. Vivi o período que a sociedade chama de bebedor social, como também o período do fundo do poço. Em ambos, encontrei amigos. Era o tempo do que tudo podia. O mundo era visto pelos olhos de um Tadeu jovem e sonhador, que pensava que o colorido da vida jamais fosse parar nos bares de terceira categoria e que a alegria artificializada dos bons tempos viesse transformar-se em dolorosas recordações. Uma coisa tenho que dizer, nunca arranjei uma inimizade sequer em mesa de bar, pelo contrário, muitas dessas amizades foram pessoas que mais tarde me estenderam a mão quando o barco de minha vida enfrentou verdadeiras tempestades. Através da bebida, escutei confissões que até hoje guardo, levando para o túmulo. Sempre tive respeito pelos bêbados, vejo neles uma confraria mal aproveitada. São pessoas inteligentes e solidárias, do tipo de “dividir o prato de comida”. São leais, embora frágeis em suas emoções.
Lembro-me do último gole. Amanhecia o dia no bairro de Neópolis , 05 setembro de 1986. No bar chamado Casa Caiada, estendi a mão para pegar aquele que seria meu último gole, conduzindo o líquido demônio que me escravizou durante dezessete longos anos. Ainda cambaleante da farra da noite anterior, vi um pedreiro aproximar-se dizendo: moço, mulher nenhuma merece uma dose de cana. Tive que dar a maior das gargalhadas. Pensava ele que minha bebedeira fosse produto do mal de amor, uma dor-de-cotovelo qualquer.
Neste instante, queria que o tempo voltasse para ver aquele pedreiro novamente e dizer a ele que deixei de beber não por causa de uma mulher, mas por duas. Dois amores de minha vida, que na época eram crianças e que um pai zeloso não queria que elas escutassem das amiguinhas: eu vi teu bêbado passando por ali.
Tadeu Arruda Câmara
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