quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Quem com ferro fere, com ferro é ferido.



Bandido que ficou famoso nos anos 80 como o maior assassino de aluguel do Nordeste foi morto com nove tiros
Nove tiros de pistola Ponto 40 ceifaram a vida e encerraram definitivamente a carreira de crimes daquele que já foi considerado o maior pistoleiro do Nordeste brasileiro. Passavam poucos minutos do meio-dia de ontem, quando Idelfonso Maia Cunha, o ´Mainha´, 55 anos, teve seu encontro com os homens contratados para matá-lo.
O encontro fatal aconteceu ao estilo que o pistoleiro sempre impôs nos longos anos em que foi literalmente caçado pela Polícia cearense. ´Mainha´ estava montado em burro, usava botas e esporas, além de um boné na cabeça para proteger-se do sol e, ao mesmo tempo, dificultar sua identificação. Mas, desta vez, estava desarmado. Dois homens, ocupantes de um carro preto, atacaram o matador de aluguel em um pequeno matagal, na esquina das ruas Samambaia e Encontro das Águas, no Conjunto Prourb, no bairro Novo Maranguape.Procurado
11 anos de operações policiais culminaram com a captura do pistoleiro no dia 6 de agosto de 1988. ´Mainha´ foi preso na cidade de Quiterianópolis
SANGUE FRIO
Bandido cometeu ´rosário´ de crimes
O ´rosário´ de crimes atribuídos a Idelfonso Maia Cunha remonta ao ano de 1977, quando o então prefeito de Alto Santo, Expedito Leite, foi assassinado em Fortaleza. Desde então, o pistoleiro passou a ser caçado pela Polícia cearense.
Ao acusado são atribuídas, pelo menos, 40 mortes, entre elas a de quatro pessoas vítimas de uma chacina na BR-116, no dia 16 de abril de 1983. Na ocasião foram mortos o prefeito João Terceiro de Sousa; a esposa dele, Raimunda Nilda Campos; o motorista Francisco de Assis; além do soldado PM João Odeon, que havia pego uma carona no carro do político.
Vinganças
Mas o primeiro crime do qual ´Mainha´ respondeu (e confessou) aconteceu na cidade de Quixadá no dia 23 de janeiro de 1982, quando, durante uma discussão de vizinhos, ele foi chamado de ´ladrão de cavalo´ e, por isso, sem hesitar, assassinou Orismilde Rodrigues da Silva, o ´Caboclo Bárbaro´. "Nunca fui ladrão", disse ´Mainha´ após sua prisão, em 1988.
Protegido pelo fazendeiro Chiquinho Diógenes, ´Mainha´ também praticou crimes em junho de 1983, quando trocou tiros e matou dois pistoleiros que haviam sido contratados por seus inimigos no Rio Grande do Norte. O local do embate foi o posto Universal, na BR-116. O mesmo ´rosário´ de fuzilamentos inclui como vítima o despachante comercial Iran Nunes de Brito (assassinado em plena Aldeota, na noite de 17 de junho de 1983).
A prisão
Prender o matador de aluguel mais famoso do Nordeste (chegou a ser capa de revista nacional), virou um desafio para a Polícia do Estado do Ceará. Para esta missão foi destacado o delegado Francisco Carlos de Araújo Crisóstomo. Ele e o delegado Luiz Carlos Dantas, juntamente com o inspetor Antônio, o ´Bigode´, passaram dias a fio no rastro do assassino, até o dia em que conseguiram detê-lo.
Para a Polícia, a morte de ´Mainha´ está ligada a fatos recentes. "Já estamos com pistas", disse Dantas. A história de crimes chegou ao fim da linha.
SOCIÓLOGO EXPLICA
Acusado assumiu o papel de justiceiro
César Barreira afirma que ´Mainha´ negava matar por dinheiro. Era um vingador que queria uma ´assepsia social´
Mito o se tornar o maior pistoleiro do Nordeste, ´Mainha´ negava receber dinheiro pelos crimes que praticava, dizia cometê-los "por questão de honra e vingança". Essas eram as palavras presentes no discurso do criminoso para justificar os seus atos.
César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que, ´Mainha´ ganhou destaque nacionalmente, em especial, na década de 80, época em que mais cometeu crimes, por conta de uma campanha contra a pistolagem promovida em todo o Brasil.
Segundo o sociólogo, ´Mainha´ sempre se colocava como vingador, um justiceiro que cometia os assassinatos no campo da honra, seja para defender uma irmã ou pelo simples fato de ter sido chamado de ladrão. Assim, o criminoso fugia do que é considerado comum na pistolagem, sempre destituída de valores sociais, com um mandante e um executor em uma relação mercenária.
"O ´Mainha´ era um vingador diferente, ele queria fazer uma espécie de assepsia social. Conforme ele, as suas ações estavam ligadas aos problemas familiares, como um filho que tentou matar o pai e por isso deveria morrer", comenta o especialista. Dessa forma, César Barreira comenta que ´Mainha´ explicava a motivação de seus crimes dentro de questões sociais, como a honra e a proteção aos membros da família.
Fonte: Diário do Nordeste.

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