terça-feira, 27 de outubro de 2009

Postado por Tadeu Arruda Câmara.

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Saudade

Na língua portuguesa não existe nenhuma palavra mais sonora, doce e ao mesmo tempo amarga do que a palavra saudade.
Muitas são as definições: é um sentimento de falta; é levar dentro do coração a
presença de um ente querido; é sentir emoção de um amor perdido; é aquele passado sempre lembrado. São muitas definições que povoam nossas cabeças. Mas para mim, nenhuma traduz com tanta exatidão como a resposta de uma criança de três anos de idade.
Dia desses me encontrava no Natal Shopping, quando dou de cara com uma velha amiga dos tempos de colégio. Papo vai, papo vem, começam aparecer os assuntos. Perguntei, dando início a conversa, pela família. Ela me respondeu que estava tudo bem. Falou-me de um filho que era uma gracinha, sapeca e divertido. Disse-me que numa tarde, ao chegar em casa, deparou-se com o bruguelo gritando: “Ainda bem que você chegou, mamãe, eu estava morrendo de saudade”. Ora, ela disse que imediatamente perguntou ao filho se ele sabia o que era saudade. Ele respondeu que sim e foi dizendo: “Saudade é procurar você e não encontrar”.
Pois bem, faço minhas as palavras daquele menino, que na inocência dos seus três anos de idade, nos deixa uma lição de vida. Digo que saudade é procurar meu pai, Armando Arruda, ensinando-me os caminhos do bem, da ética. Saudade é procurar mamãe Mariana fazendo uma macarronada, meu prato preferido, e não encontrar mais. Saudade é procurar meus amigos de infância lá em Nova Cruz , nas peladas onde a bola era feita de meia e molambo, e não encontrar mais. Saudade é correr para o rio curimataú e não ver mais enchente. Saudade é ir na rua grande de Nova Cruz e não assistir mais as missas dos domingos. Saudades dos dias que aniversariava e minha madrinha Joanita Arruda, na sua meiguice, perguntando qual o presente que desejava. Lembro-me do anel com que ela me presenteou quando tinha mais ou menos oito anos, perdendo logo em seguida no percurso da escola. Ainda hoje sinto o sabor salgado das lágrimas que derramei.
Da minha infância sinto saudades até da palmatória chamada Carolina. Errou ía pro cacête, não tinha perdão. Vivia pendurada em local visível na sala de jantar, exigindo respeito.
Não podia deixar de falar no circo, o grande acontecimento social da cidade. Ele chegava todo ano e com ele vinha o alegre palhaço caminhando pelas ruas cantando:
O raio, o Sol suspende a Lua
“Olha o palhaço no meio da rua”
E dizia mais,
Hoje teve espetáculo?
“Teve, sim senhor!”
Hoje teve marmelada?
“Teve, sim senhor!”
Hoje teve farofada?
“Teve, sim senhor!”
E o palhaço o que é?
“É ladrão de mulher!”
E arrocha, minha gente!
Tudo isso não sai de minhas lembranças. Numa dessas passagens do circo, recordo até do cachorro chorão, um cachorro desprovido de pelos. Foi doado à Tia Joanita pelo proprietário do circo.
Chorão fez sucesso na arte de agradar. Chamava atenção pela sua aparência. Era um barato prá toda meninada.
E o trem? Toda meninada corria para ver a Maria Fumaça passando englindo brasa e soltando fumaça. E nós na maior alegria escutávamos o barulho que parecia dizer: café com pão, bolacha não; café com pão, bolacha não; café com pão, bolacha não...
Tadeu Arruda Câmara
Um novacruzense em diáspora.

Um comentário:

tuta disse...

Que SAUDADE da minha avó Joanita. Saudade é isso mesmo, procurar alguém e não encontrar, nem mais(como se diz aqui em Portugal). Tuta.