terça-feira, 23 de setembro de 2008

Transcrito - dataprev

FRAUDES NA BOCA-DE-URNAAUXÍLIOS-DOENÇA VIRAM MOEDA DE TROCA POR VOTO Investigação da Previdência constata que concessões de benefícios crescem 37% no estado em ano eleitoralHouve um tempo em que os políticos no Brasil trocavam o voto por um par de botinas. Hoje a moeda de troca passou a ser os benefícios da Previdência Social. Números do ministério apontam que, em ano eleitoral, cresce a concessão, principalmente de auxílios-doença. De 2003 para 2004, por exemplo, período anterior à última eleição para vereadores e prefeitos, a quantidade de auxílios concedidos pelo INSS em todo o estado do Rio subiu de 108.803 para 149.837, um aumento de 37,11%.- Atualmente, a porta mais aberta para as fraudes na Previdência é a concessão de auxílio-doença - admite uma fonte do INSS do Rio, que participa das investigações das irregularidades.No interior do estado, a festa na distribuição de auxílios é ainda maior, de acordo com o levantamento do instituto. Na região, a população parece sofrer de surto psicótico que a faz procurar as agências da Previdência. Os problemas psiquiátricos, em geral, são os mais comuns nos processos de liberação dos benefícios, afirmam técnicos envolvidos nas apurações.No Norte Fluminense, a questão é flagrante. A Gerência Executiva de Campos, que abrange a maioria dos municípios da região, lidera o ranking de concessões de auxílios-doença em período eleitoral.Só antes da eleição de 2004, o número de beneficiados subiu de 14.566 para 23.299, ou seja, cresceu 59,95% entre 2003 e 2004. Considerados os números de 2001 a 2004, no entanto, o aumento passa de 200%.Fraude é maior no interiorA farra dos políticos para garantir votos nas eleições se espalha, principalmente, no interior do estado. O município de Bom Jesus de Itabapoana, no Norte Fluminense, pode ser um dos berços das ações dos políticos locais que adotariam a prática de troca de voto por benefícios da Previdência.Denúncia formalizada em janeiro deste ano contra vereadores do município, distante 334 quilômetros do Rio, vem sendo investigada pela Superintendência Regional do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) do Rio e pode ser a ponta do iceberg do problema. Técnicos da Corregedoria e da Auditoria do INSS analisam as denúncias, que são reforçadas pelos dados da Dataprev. De janeiro de 2001 até a primeira semana de maio de 2005, foram concedidos 5.628 auxílios-doença. O número representa mais de 20% dos eleitores da cidade.Antes da última eleição para prefeito e vereadores, no ano passado, a quantidade de auxílios liberados pela Previdência na cidade cresceu 71,17%, pulando de 1.034 para 1.770 de 2003 para 2004. - Eu vou ser sincero. O bicho está pegando aqui. Isso aqui é uma máfia - afirmou o responsável pela denúncia feita ao INSS, que pediu para não ser identificado.Eleitor é cadastradoA venda de voto em Bom Jesus seria pública e notória, segundo o responsável pela denúncia que chegou ao INSS. Ele conta que, na época da eleição, um dos envolvidos usa um caderno para cadastrar o nome das pessoas interessadas em conseguir o auxílio-doença: - O sujeito vai na casa das pessoas. Ele cadastra o nome da pessoa, o endereço e o número do benefício. No período eleitoral corre atrás. O cara que está no caderno não tem saída, vai passar pela mão do candidato para ganhar o benefício...PrevMóvel é usadoO denunciante afirma que o suposto esquema não fica limitado às salas e consultórios da agência da Previdência de Bom Jesus. O serviço chamado PrevMóvel, que atende às comunidades mais afastadas, também faria parte da ramificação.- A coisa aqui na cidade é vergonhosa. Eles (os políticos) perderam o medo. Até os que são funcionários do posto estão em benefício. Se eu mostrar quem está em benefício aqui em Bom Jesus, você vai ficar apavorado. Muitos pagam o teto máximo do INSS por um período pequeno e entram com pedido de auxílio. O cálculo é feito em cima do teto. Tem muita gente envolvida nisso - relata o denunciante.Maioria alega mal psiquiátricoO suposto esquema que facilitaria a concessão de benefícios na agência de Bom Jesus do Itabapoana, no Norte Fluminense, envolveria servidores, médicos-peritos e até vereadores da cidade. Para conseguir a liberação do auxílio-doença, o interessado teria que procurar um intermediário na própria agência.O servidor seria o responsável pela triagem dos possíveis beneficiados. E, em seguida, indicaria um dos médicos para diagnosticar a doença que o segurado teria. De acordo com as investigações do próprio INSS, realizadas em conjunto entre a auditoria e a corregedoria do instituto, nesses casos a maioria das perícias médicas determinam que os segurados sofrem de mal psiquiátrico. - Administrativamente, os benefícios são regulares. As doenças psiquiátricas são subjetivas - explicou uma fonte do INSS.Ao conseguir o laudo médico, o novo segurado fica comprometido em votar nos candidatos que facilitaram a concessão do benefício.

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