segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Convivendo com as ofensas.





Quem na vida não se sentiu ofendido? Eu mesmo passei situações que, se não fosse meu autocontrole, não sei o que seria de mim e nem de quem levianamente, por inveja, ou querendo mostrar serviços em cima do trabalho alheio, causou-me grande mal.
Nunca me esqueci de uma matéria que li, numa revista, sobre epidemiologia e saúde pública, onde se narrava um estudo em que pessoas que se sentiam injustiçadas possuíam maior probabilidade de ter, devido a emoções negativas, mudanças nas reações bioquímicas no organismo. Os injustiçados, de alguma maneira, tinham mais chances de sofrer um ataque cardíaco ou angina.
A pior das ofensas é aquela produzida pela calúnia. Esta história de dizer que ninguém leva desaforo pra casa é mentira. Eu levei muitas vezes. Tive de ser educado em várias ocasiões para não perder a classe. É o que se chama ‘engolir o sapo’. Recordo, meses atrás, de uma senhora, cabelo em desalinhos, olhos esbugalhados, aos gritos, gritava-me como uma possessa, num órgão público, na casa do povo. Além de demonstrar que falava por outra pessoa, que trazia tudo decorado, na ponta da língua, fazia questão de mostrar seu autoritarismo aos presentes. Nada respondendo, retirei-me da sala, pedindo até licença, dizendo que ia ao banheiro e pulei fora.
Quando o desafeto é uma incompetente como no caso desta senhora, a resposta tinha que ser o silêncio. Quando você discute com um leigo, fica difícil saber quem é mais imbecil dos dois. Vá trocar coices com um jumento, e depois me diga o resultado.
O período de mais ofensas na minha vida foi o ano de 2002. Assessorava um deputado, candidato a reeleição, quando o mesmo contrata um casal para fazer parte de sua equipe. Casal que trazia, onde passou, história de inimizades, calúnias, confusão, todo tipo de baixaria, sem falar de alguns processos na justiça federal. Tirou-me a paz. Era tiroteio pra todo lado. Não agüentando mais, falei ao deputado que não suportava o clima e que ia pular fora. Ele assim me respondeu: “Agora que o Titanic começa afundar?” Aquilo me doeu. Tive de conviver até o final, amargando não só a não reeleição do deputado, como também, minha derrota, acabava de deixar de ser diretor da Assembléia Legislativa. Dias mais tarde, encontro-me com o asqueroso casal que, na maior gargalhada, perguntava pelo deputado: “Ele gostou do resultado”? E escarnecendo, desfazia do homem que tanto ajudou, não só eles, mas muita gente.
Tudo isso ajudou–me conviver com as ofensas. Criei, em mim, uma espécie de antivírus, no instante em que ela chega, um sistema de alarme é acionado, avisando que mais um mau caráter tenta denegrir sessenta anos de honestidade, de bons amigos, de honradez. Assim me blindo, dando folga a minhas coronárias. Meu medo é se um dia o alarme falhar e tiver que agir por outros meios.

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