quinta-feira, 24 de maio de 2007

Não é a primeira. Nem a última

Clóvis Rossi
Publicado na Folha de São Paulo

Juan Arias, correspondente do jornal espanhol "El País" no Brasil, termina sua nota sobre o mais recente escândalo no país com uma observação que parece casual, de passagem, mas acaba sendo a explicação de fundo para todos os escândalos, recentes e não tão recentes. "Não é a primeira vez que altos funcionários do governo de Lula são acusados de corruptos", escreveu Arias.

Tivesse acrescentado que também foram acusados mais de uma vez de corrupção altos funcionários dos governos Fernando Henrique Cardoso, José Sarney, Fernando Collor, para citar só o período democrático, estaria tudo explicado: todos esses presidentes foram lenientes no trato de seus amigos/ correligionários quando envolvidos em escândalos. Por extensão, forneceram uma senha indireta (às vezes direta) para que os escândalos se reproduzissem uma e outra vez.

O caso de Lula é talvez mais grave, porque seu partido/grupo foi o último a chegar ao poder, do qual todos os demais grandes partidos já haviam desfrutado (e o verbo aí não é casual). Até ocupá-lo, os lulo-petistas eram os primeiros a gritar "falta", sempre que havia alguma acusação contra funcionários dos governos a que faziam oposição -e gritavam bem alto.

Agora, calam, se omitem, abafam -exatamente como faziam seus antecessores. Resultado: não sobrou ninguém que não tenha telhado de vidro. Por isso, o grito, quando sai, sai abafado. O público vai ficando anestesiado. Convencido de que todos roubam na sua vez de ser governo, olha para os escândalos com uma indignação temperada pela anestesia. Se ninguém foi punido nos mil escândalos anteriores, por que haverá agora algum castigo? Como escreveu Arias, "não é a primeira vez...". Por isso mesmo, tampouco será a última.

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