Leio na imprensa que o governo do estado desperdiçou R$102 mil reais com a locação de um jatinho para a nossa Governadora ir ao Rio de Janeiro participar de uma simples cerimônia de aniversário de telecurso.
A ausência de voo regular no horário foi a justificativa apresentada, já que sua excelência havia participado de uma solenidade em Natal e, em seguida, precisava, segundo o seu sentir, se fazer presente na Cidade Maravilhosa.
O fundamento da despesa não convence. Se não havia possibilidade de utilizar um dos dois aviões do estado posto à sua disposição, ou até mesmo um avião de linha de transporte aéreo regular, que Sua Excelência se fizesse representar.
Na solenidade local, por exemplo, a doutora Rosalba poderia haver sido representada pelo Chefe do Gabinete Civil, doutor Carlos Augusto, a quem, em Mossoró, somente se refere como governador de fato. Que diferença faria então a presença da governadora de direito ou a presença do governador de fato?
Nunca, porém, poderia o estado gastar essa pequena montanha de dinheiro para conduzir sua governadora a um convescote, quando recursos faltam para satisfazer as mais comezinhas necessidades básicas da população - saúde, educação, segurança -, e remunerar condignamente seus servidores.
Afinal, com essa mesma quantia quantas vidas poderiam ser salvas no pronto socorro do Walfredo Gurgel, onde tem faltado até fio cirúrgico, e na UTI pediátrica do Santa Catarina, que costuma ser alvo reinterado de noticiais de carências de materiais?
Em face de tão infausta notícia, pergunto: até quando?
Respondo com desassombro: até existir governo.
Decididamente – repito sem enfado -, no País de Macunaíma (Mário de Andrade), de Prudêncio (Machado de Assis) e de Peixoto (Nelson Rodrigues), se faz, sem exceção, quando no governo, tudo aquilo que se condenava quando se era oposição; e, por outro lado, quando na oposição, se condena justamente tudo aquilo que se fazia quando se era governo. Lembro, por óbvio, o leading case do Molusco Apedeuta antes, durante e após o exercício da Presidência.
Como se não bastasse, virou prática consuetudinária ressuscitar fantasmas, espécie de gosto lúgubre de se espantar com eles, experiências que não deram certo.
No caso do literal voo governamental, o que mais dói não é o abuso em si, mesmo sendo muito grave, mas a indiferença, a falta de indignação do povo e de seus representantes.
O cidadão que trabalha e paga impostos e ver o seu dinheiro bancar essa e outras se sente o otário da História. Dir-se-á, como consolo, que a ele, o otário, resta a arma do voto. Tudo bem. No campo do dever ser, o voto é a arma cívica contra governos atabalhoados. Dizem até que o ser humano somente se igualha efetivamente nos momentos do voto e da morte.
Disso ninguém duvida. Mas, meu caro leitor, cá pra nós, temos alternativa?
Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come. Reclamar? Só se for ao bispo, como diz o adágio popular.
RICARDO SOBRAL
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