Paulinho, Grande Paulinho... por João da Mata Costa Paulinho, Grande Paulinho... por João da Mata Costa
Meu amigo de sebos e bares morreu. Ninguém sabe como. Morando sozinho nãotinha ninguém para testemunhar o triste desenlace. O corpo só foi encontrado três dias depois da morte. Um grande boêmio conhecia todos osbares. Inconveniente algumas vezes naquilo que a solidão aporrinha e dói.Carente nos seus tantos anos de muita farra. Tomava cana e pagava bebidapara todo mundo. Seu ultimo rastro ele deixou no sebo de Abimael quando noultimo sábado esteve lá - como sempre fazia - tomando sua caninha comtangerina. A tangerina ainda estava lá, mas de Paulinho só a saudade e asmuitas lembranças.Galanteador brincava com todas as mulheres. A algumas ele propunhacasamento. Dizia que daria tudo. Muito simpático e bonachão, conhecia bema cidade que ele sorveu em largos tragos. Caia algumas vezes da cadeira.Os donos de bar cobravam o que queria por suas doses. No antigo Bar doNazi ele tinha a sua cota. Todos nós tentávamos regular a cachaça dePaulinho. Ele bebia todas e ficava inconveniente a partir da segunda latade Pitu. Elogiava o peito da mulher do amigo. Dizia gostar de Lenita.Outras vezes sacava a plenos pulmões: – eu quero o seu cú.Aposentado do Banco do Brasil ganhava bem para viver a sua solidão. Dealguns lugares foi expulso. Certa vez isso aconteceu ao tomar banho nu napiscina da AABB. Outra vez mijou sobre os pratos vazios e copos de um bar.– Porra, Paulinho disse um amigo!E Paulinho ficava só, e sua pena não era maior porque tinha dinheiro parapagar tudo. Um dos maiores graus de loucura é quando alguém rasga ou jogadinheiro fora – dizem os entendidos. Certa vez Paulinho foi posto a testee alguém o provocou – Quero ver você rasgar dinheiro! Pois, Paulinhorebolou dinheiro fora em plena Avenida Deodoro. Outra vez amanheceu nunuma calçada. Essa mania de bêbado ficar nu e lascivo, nunca entendi.Enfim, Paulinho foi embora e nos deixou mais só. Alguns ficarão sem suadose. Eu ficarei com a sua lembrança mais terna de alguém muito amigo esolitário. Inconveniente para alguns. Na ultima feira de livro na UFRN eletomou todas e falava com cada pessoa ou aluno que transitava noscorredores. A cidade alta perde um dos seus últimos grandes boêmios.Aquela laranja ninguém teve coragem de comer. A cerveja de hoje estavadiferente, mesmo com todos os amigos. A caetana esgoelava suas garras. Ocheiro de morte no ar e esse calor dos infernos de Dante.
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