quarta-feira, 28 de março de 2012

Paulinho, Grande Paulinho... por João da Mata Costa


Paulinho, Grande Paulinho... por João da Mata Costa Paulinho, Grande Paulinho... por João da Mata Costa
Meu amigo de sebos e bares morreu. Ninguém sabe como. Morando sozinho nãotinha ninguém para testemunhar o triste desenlace. O corpo só foi encontrado três dias depois da morte. Um grande boêmio conhecia todos osbares. Inconveniente algumas vezes naquilo que a solidão aporrinha e dói.Carente nos seus tantos anos de muita farra. Tomava cana e pagava bebidapara todo mundo. Seu ultimo rastro ele deixou no sebo de Abimael quando noultimo sábado esteve lá - como sempre fazia - tomando sua caninha comtangerina. A tangerina ainda estava lá, mas de Paulinho só a saudade e asmuitas lembranças.Galanteador brincava com todas as mulheres. A algumas ele propunhacasamento. Dizia que daria tudo. Muito simpático e bonachão, conhecia bema cidade que ele sorveu em largos tragos. Caia algumas vezes da cadeira.Os donos de bar cobravam o que queria por suas doses. No antigo Bar doNazi ele tinha a sua cota. Todos nós tentávamos regular a cachaça dePaulinho. Ele bebia todas e ficava inconveniente a partir da segunda latade Pitu. Elogiava o peito da mulher do amigo. Dizia gostar de Lenita.Outras vezes sacava a plenos pulmões: – eu quero o seu cú.Aposentado do Banco do Brasil ganhava bem para viver a sua solidão. Dealguns lugares foi expulso. Certa vez isso aconteceu ao tomar banho nu napiscina da AABB. Outra vez mijou sobre os pratos vazios e copos de um bar.– Porra, Paulinho disse um amigo!E Paulinho ficava só, e sua pena não era maior porque tinha dinheiro parapagar tudo. Um dos maiores graus de loucura é quando alguém rasga ou jogadinheiro fora – dizem os entendidos. Certa vez Paulinho foi posto a testee alguém o provocou – Quero ver você rasgar dinheiro! Pois, Paulinhorebolou dinheiro fora em plena Avenida Deodoro. Outra vez amanheceu nunuma calçada. Essa mania de bêbado ficar nu e lascivo, nunca entendi.Enfim, Paulinho foi embora e nos deixou mais só. Alguns ficarão sem suadose. Eu ficarei com a sua lembrança mais terna de alguém muito amigo esolitário. Inconveniente para alguns. Na ultima feira de livro na UFRN eletomou todas e falava com cada pessoa ou aluno que transitava noscorredores. A cidade alta perde um dos seus últimos grandes boêmios.Aquela laranja ninguém teve coragem de comer. A cerveja de hoje estavadiferente, mesmo com todos os amigos. A caetana esgoelava suas garras. Ocheiro de morte no ar e esse calor dos infernos de Dante.

Nenhum comentário: