ARTIGO
Os médicos da (im)previdência
Francisco Duarte Guimarães (*)
Eu e minha família temos enfrentado uma barra duríssima. Um parente nosso vinha sofrendo de problemas emocionais, tipo estresse, depressão, insônia, essas coisas, em decorrência de seu ambiente de trabalho.
Ocorre que ele trabalha num banco, o Bradesco, há mais de 24 anos. O Bradesco, como todos sabem de cor e salteado, é entre os bancos privados aquele que mais explora seus funcionários e os submete a um rigor e a uma inflexibilidade inimaginável. Coisa de trogloditas esclarecidos.
Nesse tempo todo no banco, ele nunca teve uma falha sequer. Muito pelo contrário. Recebeu vários elogios. Alguns dos quais por escrito e de seus superiores. Algo extremamente difícil hoje em dia. Principalmente quando se trabalha, inclusive manipulando, como ele, com numerários, documentos contábeis, sigilo bancário, di-nheiro em espécie, recursos de terceiros etc.
De uns anos para cá, uma gerente descontrolada, sem condições de lidar com pessoas, pois gritava com os funcionários, inclusive na frente de clientes, começou a persegui-lo, humilhando-o pessoalmente, assim como a outros funcionários. Alguns desses outros foram para especialistas, fizeram tratamento, e depois para os médicos da Previdência e assim chegaram a obter alguns dias de afastamento senão a transferência para outra agência.
Mas o nosso familiar, não: dedicado, obcecado pelo trabalho, devotado pelo Bradesco, achava que tudo ia passar e que as coisas iam se restaurando aos poucos, principalmente quando ocorresse a transferência normal e periódica, dentro da instituição, da gerente despreparada. Assim foi tomando seus remédios, buscando ajuda familiar e religiosa, suportando tudo, mas sempre trabalhando.
Ocorre que, poucos dias antes de ser transferida, a gerente inapta pediu, não sem uma pinta de maldade, a demissão dele. Cinco dias após a partida dela e a chegada do novo gerente, este, sem ao menos conhecê-lo direito, entregou-lhe a carta de demissão, que a chamada Diretoria Regional havia deferido sem nenhuma justificativa ou explicação por menor que fosse.
Tudo que estou dizendo, e muito mais, está nos autos do processo, que fez reverter a decisão do banco e o nosso familiar hoje se encontra trabalhando de novo, com todos os seus direitos restaurados e garantidos. Trabalhando, mas num outro setor, pois o Bradesco não suporta que os funcionários busquem os seus direitos - outro golpe baixíssimo do banco.
Ocorre que, apesar de tudo isso, explicadinho, os médicos da Previdência Social, primeiro lhe negaram o benefício, com base num relatório do ambiente de trabalho vergonhoso. Depois, voltaram atrás, por força de uma insistente renovação do pedido e da obviedade da questão.
Agora, não querem caracterizar o caso dele como de doença concebida no ambiente de trabalho (b-91), mas como de uma doença comum (b-31), como qualquer uma dessas que se pegam na rua. E isso apesar da decisão da Justiça do Trabalho e de todos os relatos, prescrições, exames e declarações por escrito de vários médicos, clínicos gerais, dermatologistas, médicos do trabalho e psiquiatras - aliás, entre os médicos da Previdência Social não há um psiquiatra sequer. Muito pelo contrário: eles debocham da Psiquiatria.
Um colega me falou que esse comportamento profissional dos médicos da Previdência faz parte de uma política governamental, agravada pelo atual governo. A mesma afirmação me foi referendada por um membro do Sindicato dos Bancários, que já teve embates feios com médicos da Previdência Social. Será?
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(*) Francisco Duarte Guimarães é jornalista e professor do curso de comunicação social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
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Um comentário:
Prezado Francisco,
É só procurar a ala política do INSS que tudo é resolvido.
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