quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Reminiscência de 2006 (Amor aos animais)


Tadeu Arruda câmara
Economista

Tudo começou quando lendo o jornal me deparo com um assunto ligado a uma jumenta chamada Celebridade, que estava sendo despejada de uma praça no conjunto Ponta Negra, aqui na Cidade do Natal.
Motivo: a comunidade do bairro havia criado, três anos atrás, uma amizade altruísta para com um ser inofensivo, uma jumenta, vítima de maus tratos humanos, como sempre. A parte de sua pata dianteira esquerda, a uns quatro centímetros do casco, fora atingida, tudo indica, com três facãozadas, sendo duas leves e uma mais profunda, que veio a decepar-lhe o casco.
Fui até lá, conversei com Dona Emília, senhora que achou a jumenta na Av. Maria Lacerda, Nova Parnamirim, toda ensangüentada, colocando-a dentro de seu carro, a mesma na época era novinha e coube dentro, e transportando-a até o bairro. Foi quando Dona Emília viu o casco se desprendendo da pata. Imagino o sofrimento do animal e também da bondosa senhora. Narrou-me todos os detalhes da terrível cena. Contou-me que, logo em seguida, veio a adoecer e passou a responsabilidade do animalzinho, que ainda não se tornara uma celebridade, à Dona Vilma, uma senhora de bons sentimentos, igualmente a dona Emília, possuidora de um bom caráter.
Foi aí que tudo teve início. Os moradores do bairro começaram a ter afeição para com a jumentinha. Revezavam-se na alimentação, na água, nos cuidados médico-veterinários.
Com o passar do tempo, foi necessário fazer uma humilde tenda com folhas de coqueiro, uma palhoça. Tudo para evitar a ação das chuvas que molhavam sempre seu curativo, que insistia em não sarar, apesar de todos os cuidados, remédios etc.
Dois dias após meu primeiro contato, fui visitar Celebridade. Cheguei pela manhã, encontrei um alvoroço de pessoas num clima de revolta na praça. Nada perguntei, já sabia o motivo. Olhe aqui senhor! Veja! Estirou-me a mão, em pranto, Dona Vilma, mostrando-me um papel azul: Prefeitura Municipal de Natal, Semurb, intimação número 5766, despejando a jumentinha que o crime que fez foi fazer pessoas felizes, alegrar crianças e turistas.
O que mais me chamou atenção no documento da Semurb foi o endereço da palhoça : Praça da Celebridade/entre a Rua Areia Branca e Av. Genipabu. ( O nome de registro da praça é outro).
Em outras palavras, até a própria Prefeitura reconhece os valores da jumentinha, chamando o local de Praça de Celebridade.
Neste momento, senti que seria um covarde se não agisse com rapidez. Pedi para levá-la comigo. A comunidade concordou desde que algumas pessoas fossem até a minha casa para ver se Celebridade teria boas condições de vida. Foram, viram e aprovaram a nova morada de minha querida Celebridade.
Hoje nossa Celebridade está num ranchinho humilde, mas acolhedor. Tem sombra e água fresca. Já foi operada por um médico-veterinário voluntário, está tendo toda a medicação e se prepara para ter uma prótese doada por uma pessoa de bem. Vive em companhia de uma outra jumenta chamada Juju, também acolhida em condições parecidas.
Não quero com tudo isto, holofotes, apesar da imprensa, com toda razão, dar notoriedade ao acontecimento. Quero sim, que as autoridades vejam os crimes contra os animais como crimes contra a humanidade.
No momento, Celebridade está bem numa clínica com todos cuidados de um veterinário. Está no merecido repouso da guerreira.

Nenhum comentário: