quarta-feira, 15 de julho de 2015

FIQUE SABENDO

A Operação Lava Jato da Polícia Federal começou localmente em Curitiba, investigando uma teia de doleiros acusados de lavagem de dinheiro, mas encontrou um esquema de corrupção na Petrobras armado durante os governos do PT com o objetivo de financiar campanhas políticas e, de quebra, enriquecer bandidos do colarinho-branco. As investigações avançaram na hierarquia política do Brasil até chegar à inimaginável situação de ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff citados por um peixe grande caído na rede – justamente o caixa do esquema, o doleiro Alberto Youssef. Maior escândalo de corrupção da história da República, o petrolão lavou pelo menos 10 bilhões de reais, segundo as investigações da Polícia Federal. Para se ter uma ideia, o mensalão sangrou os cofres de instituições públicas e privadas do país em cerca de 173 milhões de reais.
A organização criminosa que operava na estatal era bastante complexa: um cartel de treze empreiteiras – o chamado "clube do bilhão" – se encontrava para decidir o preço das obras na Petrobras, dividir as responsabilidades pela execução de cada uma delas e, o principal, o valor da propina que deveria sobrar para abastecer os escalões políticos. Uma "aula de crime", como definiu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
As empreiteiras do esquema firmavam contratos de consultoria com empresas de fachada que embolsavam o dinheiro e davam notas fiscais para "limpar" as operações, que pareciam protegidas por uma inexpugnável confraria de amigos posicionados nos lugares certos em Brasília e na Petrobras. Os recursos desviados abasteciam o PT, o PMDB e o PP, os três principais partidos da base de apoio do governo federal. O pagamento era feito de diversas maneiras: em dinheiro vivo e em depósitos no exterior ou no Brasil mesmo, em operações maquiadas como prestação de serviços, principalmente de consultoria.
Dois personagens-chave do esquema decidiram selar acordo de delação premiada com a Justiça. O ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa entregou aos investigadores uma lista com os nomes de 28 políticos envolvidos  no esquema. Estão lá sete senadores e onze deputados federais, além de um ministro, um ex-ministro e três governadores. Como revelou VEJA, Costa apontou três partidos políticos (PT, PMDB e PP) como beneficiados pelas verbas desviadas. Eles recebiam 3% de comissão sobre o valor de contratos da petrolífera.  VEJA revelou ainda que o ex-diretor contou às autoridades que, em 2010, o ex-ministro Antonio Palocci o procurou para pedir 2 milhões para campanha da presidente Dilma Rousseff. Costa apontou como beneficiários do esquema também os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Do Senado, segundo o jornal, citou ainda o nome de Ciro Nogueira (PP-PI) Delcídio Amaral (PT-MS), Gleisi Hoffman (PT-PR), Humberto Costa (PT-PE) e Lindbergh Farias (PT-RJ). Já no grupo de deputados aparecem o petista Cândido Vaccarezza (SP) e João Pizzolatti (SC), um dos mais ativos integrantes da bancada do PP na casa. O ex-ministro das Cidades e ex-deputado Mario Negromonte, também do PP, é outro citado como destinatário da propina. Da lista de três “governadores” citados pelo ex-diretor, todos os políticos são de estados onde a Petrobras tem grandes projetos em curso: Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio, Roseana Sarney (PMDB), ex-governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República morto em agosto deste ano em um acidente aéreo.
Já o doleiro Alberto Youssef implicou no escândalo a presidente e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Mensagens encontradas pela PF em computadores do Planalto mostram ainda que eles poderiam ter interrompido o propinoduto, mas, por ação ou omissão, impediram a investigação sobre os desvios. Outro delator do esquema, o executivo da Augusto Ribeiro de Mendonça Neto confirmou que participava de um cartel de empresas que comandava as obras da Petrobras e, em contrapartida, entregava uma parte de seus ganhos aos partidos do governo — exatamente como disseram o ex-diretor Paulo Roberto e o doleiro Youssef. “Os pagamentos se deram de três formas: parcelas em dinheiro, remessas a contas indicadas no exterior e doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores”, declarou o empresário. É desse trecho do depoimento que eclode uma constatação de estremecer: o delator confirmou que a Toyo Setal enviou parte do dinheiro roubado da Petrobras ao caixa eleitoral do PT, simulando uma doação legal.
Uma declaração arrastaria ainda a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, para o centro do esquema. A ex-gerente da estatal Venina Velosa da Fonseca afirmou que alertou pessoalmente Graça sobre irregularidades em contratos. O papel de Venina nas denúncias foi revelado no dia 12 de dezembro. Reportagem do jornal Valor Econômico afirmou que a ex-gerente prestou depoimento ao Ministério Público Federal em Curitiba, que investiga os escândalos envolvendo contratos da empresa. Venina da Fonseca ocupou vários cargos na Petrobras nos últimos 24 anos. Em 2004, ela se tornou gerente executiva da Diretoria de Refino e Abastecimento quando passou a trabalhar na área de abastecimento com o então diretor Paulo Roberto Costa.

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