Cinco coisas que você deve saber
sobre o Transtorno Bipolar do Humor
1. O que é Transtorno Bipolar do Humor (TBH)?
O Transtorno Bipolar é uma doença grave, limitante e que pode causar
prejuízos importantes na vida de uma pessoa. A partir do aumento de estudos
científicos nessa área, o diagnóstico tornou-se mais preciso e, por isto, cada
vez mais pessoas são diagnosticadas como portadoras deste transtorno. De uma
maneira geral, a principal característica do Transtorno Bipolar é a presença de
instabilidade ou oscilação do humor. A pessoa bipolar apresenta fases de
depressão e fases de mania ou euforia que se alternam ao longo do tempo. Pode
manifestar-se de varias formas, dependendo da duração e intensidade das fases
de mania e depressão.
Na euforia ou mania, ocorre uma ativação dos processos psíquicos, o
humor do paciente fica exaltado, “para cima”, com aumento de energia, de forma
desproporcional ou sem relação com eventos da vida. O paciente pode se irritar
facilmente e o fluxo de ideias fica acelerado. Também pode acontecer de,
subitamente, o indivíduo passar a ter ideias bizarras, místicas ou espirituais
que não fazem parte de suas crenças habituais. A alegria ou exaltação que
normalmente as pessoas sentem não é tão duradoura, nem oferece riscos como a
que ocorre no estado de euforia – que podem durar dias, semanas ou meses. Além
disso, na mania acontecem mudanças importantes no comportamento, saúde física e
raciocínio (o pensamento acelerado, característico da mania, nunca acontece em
estado de normalidade). A família e as pessoas à volta percebem claramente as
mudanças que, em geral, acontecem de forma abrupta.
Os principais sintomas da Mania ou Hipomania são:
- Aumento da Energia: excesso de atividade no trabalho, estudos,
compras, aumento de conversas ao telefone, de sexo, exercícios, viagens ou
noites na internet;
- Humor irritável ou mais raramente eufórico;
- Aumento da agressividade, presença de impaciência;
- Aceleração de pensamentos, muitas ideias, devaneios e distrações
presentes;
- Aumento da atividade mental, muitas ideias e planos;
- Pensamentos com conteúdo exageradamente positivo: otimismo, sentimento
de superioridade, arrogância, coragem, perda de timidez;
- Aumento da impulsividade e de atividades de risco (esporte, gastos,
sexo);
- Abuso e/ou dependência de álcool e/ou drogas;
- Diminuição da necessidade de sono;
Na depressão, ocorre uma diminuição da energia, do prazer e a presença
de tristeza e/ou irritabilidade. O indivíduo deprimido percebe que seus
sentimentos diferem de uma tristeza normal sentida anteriormente ou do luto. A
pessoa deprimida reage às situações estressantes com sofrimento maior e mais
prolongado, desproporcional ao estímulo. Tudo se transforma em problema e os
problemas tornam-se mais pesados e difíceis de resolver. Quem sente tristeza
normal, busca a companhia de outras pessoas, mas a pessoa com depressão prefere
se isolar. Quando o indivíduo está triste, procura se ajudar; a pessoa
deprimida não consegue acreditar na eficácia de qualquer ajuda, está descrente,
sem interesse e força de vontade. Alguns pacientes deprimidos tentam se
distrair e disfarçar a depressão, mas acabam irritados e sem paciência pelo
esforço em aparentar bem-estar. Em casos mais graves, a pessoa fica muito
lenta, com dificuldade de concentração e raciocínio e a velocidade do
pensamento diminui. Assim como na mania, esta alteração da velocidade normal do
pensamento é algo que não ocorre em estado de normalidade.
Os principais sintomas da Depressão são:
- Diminuição da energia;
- Humor depressivo (triste ou irritável);
- Diminuição da motivação;
- Diminuição ou perda do prazer;
- Raciocínio lento, baixa concentração e prejuízo da memória;
- Indecisão, apatia, desânimo;
- Pensamentos com conteúdo negativo: pessimismo exagerado, sentimentos
de insegurança, baixa autoestima, vazio, culpa em relação a tudo, medo
excessivo de ficar doente ou morrer, preocupações exageradas com todo e
qualquer assunto;
- Insônia ou sono em excesso;
- Dores pelo corpo e queixas físicas;
- Diminuição importante ou perda da libido.
De maneira geral, há três características principais que diferenciam um
episódio de alteração do humor do Transtorno Bipolar de uma oscilação normal do
humor:
1. Intensidade: as alterações do humor que ocorrem no TBH são
normalmente mais severas do que as oscilações normais do humor.
2. Duração: um estado simples de mau humor, normalmente, termina em
poucos dias, mas a mania ou a depressão pode durar semanas ou meses. Quando a
pessoa sofre de ciclagem rápida, euforia e depressão podem ir e vir
rapidamente, mas a pessoa habitualmente não retorna a um humor estável por um
longo período.
3. Interferência nas atividades da vida: os extremos no humor que
ocorrem num TBH podem causar sérios prejuízos. Por exemplo: um episódio
depressivo pode deixar uma pessoa incapaz de sair da cama ou ir até o trabalho;
um episódio maníaco pode fazer uma pessoa ficar sem dormir durante várias
noites e dias ou gastar um dinheiro que, de fato, ela não tem ou não desejaria
desperdiçar.
2. Por quais razões o Transtorno Bipolar do Humor
se desenvolve?
O Transtorno Bipolar é uma doença multifatorial. O que determina se um
indivíduo terá ou não esta doença é principalmente a hereditariedade. Ou seja,
existe uma predisposição biológica, geneticamente determinada, para apresentar
o transtorno. Além disso, alguns fatores ambientais e psicológicos podem
facilitar a manifestação das primeiras crises e são fatores importantes no
desencadeamento de crises futuras. Entre estes fatores (chamados estressores)
estão: a perda de alguém querido ou separações, mudanças importantes na vida
(para melhor ou para pior), alteração do ritmo de sono (mudanças de fuso,
trabalho noturno ou noites mal dormidas), uso de álcool e/ou drogas.
3. Como sei identificar se alguém está com esse
problema?
É possível reconhecer se alguém está em Mania ou Hipomania se ele se
mostra exageradamente “feliz” e excitado ou exageradamente irritado ou raivoso.
A pessoa sente-se capaz de fazer coisas que ninguém mais poderia fazer, parece
arrogante, dorme menos que de hábito, faz muitas coisas ao mesmo tempo, parece
ter mais energia, fala muito e rápido, tem muitas ideias (algumas irrealistas)
e é facilmente distraído, não terminando o que começa, faz coisas impulsivas
como gastar mais dinheiro do que poderia ou se insinuar sexualmente sem que
esse seja o seu comportamento usual.
Quando está deprimida, a pessoa sente-se triste, irritada, ansiosa, sem
interesse pelas pessoas e pelas coisas, dorme muito ou tem insônia, perde o
apetite e o prazer pelas coisas de que costumava gostar. Não consegue se
concentrar ou tomar decisões. Sente-se fatigada, sem energia, mais lenta,
culpada em relação a tudo e pode pensar em suicídio.
4. O Transtorno Bipolar do Humor tem tratamento?
O tratamento indicado para o Transtorno Bipolar é prioritariamente farmacológico
e feito por um psiquiatra, mas a associação da farmacoterapia com a
psicoterapia é a forma mais eficaz de controlar os sintomas e prevenir
recaídas.
O tratamento farmacológico consiste de estabilizadores do humor como
Litium®, Depakote®, Tegretol®, Lamictal®, etc., mas pode incluir o uso de
antidepressivos ou drogas que controlam a ansiedade ou problemas com os
pensamentos (delírios e alucinações). O uso destas medicações implica em
consultas frequentes com um psiquiatra a fim de controlar efeitos colaterais e
fazer os ajustes necessários para que os sintomas fiquem estáveis. A
psicoterapia ajuda a aprender mais sobre a doença, a prevenir recaídas e a
monitorar o humor, a rotina, e lidar melhor com diversos problemas que podem
desencadear novas crises ou agravar o quadro.
5. A quem devo buscar para pedir ajuda?
O profissional indicado para tratar o paciente bipolar é o psiquiatra. A
psicoterapia que tem se mostrado mais eficaz na redução de sintomas e na
prevenção de novas crises é a abordagem cognitivo-comportamental. Trabalhos de
psicoeducação feitos pelos próprios psiquiatras, psicólogos ou demais
profissionais de saúde mental também demonstraram ser eficientes na melhora da
compreensão da doença e na prevenção de recaídas.
* Mireia C. Roso é psicóloga, mestre em
Psicologia pela USP e pesquisadora do Departamento de Psiquiatria do Hospital
de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP). Rosilda Antonio
é psiquiatra, psicoterapeuta e membro da Sociedade de Psicodrama de São Paulo.
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