quarta-feira, 30 de maio de 2012

PALHAÇO POR UM DIA

Todos nós temos um caso que abalou, sobremaneira, nossas vidas. Por menor que seja, deixa marcas indeléveis. O ano de mil novecentos e oitenta e três foi um ano inesquecível na minha vida. Foi o ano em que, afoitamente, resolvi dar uma geral na vida. Comecei pela empresa em que trabalhava, a finada Telern, pedindo demissão. Não aguentava mais um grupo de bajuladores subindo às custas de quem produzia.
Naquela época, já estava formado, terminara o curso de Economia na UFRN, acreditava no meu país, levei a sério o curso, tinha constituído família e almejava fazer da minha profissão um meio de vida digno.
Corria célere o tempo. Lembro-me como se fosse hoje; era o mês de Junho. Ouvi dizer que nossa empresa de águas e esgotos, a Caern, estava precisando de economista; fui até lá, perguntei os pré-requesitos do concurso e fui à luta. Naquela época, morava sozinho, tempos difíceis, o Brasil na recessão. Passados trinta dias, data aprazada para o concurso, mergulhado em tudo quanto era de livros, apresentei-me para o tão esperado dia. Indicaram-me uma sala, onde lá encontrei, aproximadamente, umas vinte pessoas também almejantes ao cargo. Escutei uma voz dizendo “Senhor Tadeu Arruda, por favor entre”. Fui o primeiro a ser chamado. Lá ía eu cheio de esperança. Olhei pra todos os lados, não vi nada de papel, nada de testes, apenas um senhor de nome Jairo, impossível esquecer, logo perguntando: o que você entende de O e M (Organização e Métodos)? Era uma matéria do curso de Administração e que não estava na grade curricular do curso de Economia. Respondi que alguma coisa através de revistas e livros técnicos, haja vista não ser necessário no meu curso. Aproveitando, perguntei pelos testes. Ele respondeu, dando aquele riso pelos cantos da boca, todo irônico: é uma entrevista. Pronto, fui embora! Mais uma vez, a vida fazia-me de palhaço.
O governador do Estado era o senhor José Agripino Maia. Para os de memória curta, o protagonista do famigerado escândalo do ‘Rabo de Palha’, uma página negra que envergonha a história política do nosso Estado. Sua secretária era uma senhora muito atenciosa e educada chamada Francisquinha Dias, hoje, falecida. Fui até ela e contei o ocorrido. Ela ficou indignada, prometeu lutar por mim e lutou realmente. Jamais esquecerei aquela bondosa senhora.
Foi aí que me lembrei de um parente que ajudei a eleger, trabalhando como um alicinado no ano anterior e que era do partido do governador. Criei ânimo e fui a ele. Contei toda a safadeza e pedi, realmente na maior humildade, que fizesse alguma coisa por mim, não me prevalecendo da condição de parente, mas na injustiça pela qual passei. Ele respondeu que ia ver.
A vida seguiu. O senhor que me arguiu, depois de agum tempo, foi trabalhar na Telern, onde fez grandes inimizades; um asqueroso! Saiu sem deixar saudades. O meu parente, segundo contou-me um ex-deputado amigo dele, até hoje recorda, em grandes gargalhadas: ele tirou zero, ele tirou zero!
Hoje relembro tudo isso não com mágoas, mas pensando como eles são fracos...
Afinal, quem não foi palhaço um dia?

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