quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

CARTA A DULCINEIA


 

Na Serra Morena, languidamente recostado num pinheiro, sem se preocupar em ficar com o corselete manchado de resina, D. Quixote sonhava,… mas acordado, com a sua dama e musa Dulcineia que ele nunca tinha visto nem vestida nem despida. De rompante, decidiu escrever-lhe uma carta.
Ei-la!


“Soberana e alta senhora!
O ferido do gume da ausência, e o chagado nas teias do coração, dulcíssima Dulcineia del Toboso, te envia saudar, que a ele lhe falha.
Se tua formosura me despreza, se o teu valor me não vale, e se os teus desdéns se apuram com a minha firmeza, não obstante ser eu muito sofrido, mal poderei com estes pesares, que, além de muito graves, já vão durando em demasia.
O meu bom escudeiro Sancho te dará inteira relação, ó minha bela ingrata, amada inimiga minha, de modo como eu fico por teu respeito. Se te parecer acudir-me, teu sou; e, se não, faz o que mais te aprouver, pois com acabar a minha vida terei satisfeito à tua crueldade e ao meu desejo.
Teu até à morte
O Cavaleiro da Triste Figura”


Tradutores: Viscondes de Castilho e de Azevedo

 

Nos dias de hoje a carta talvez seguisse assim:


Ó minha!
Estou para aqui sem ter nada que fazer “a modos que” resolvi escrever-te.
Estás a fazer-te um pouco cara e eu não estou para te aturar! Queres ou não curtir comigo? Ou sim ou népias! Anda por aí muita gaja, que até “chora” para andar comigo, se pensas que fico a pensar em cortar as goelas por não queres nada comigo, estás muito enganada.
Tenho na minha frente uma loirinha e um prato de caracóis, fico à espera que digas qualquer coisa, mas não demores muito que eu não tenho tempo a perder!
O Zé Vida Curtida


Desafio os meus e as minhas visitantes a "vestirem-se" de D. Quixote e a “escreverem” uma carta à bela Dulcineia! Até pode ser apenas uma frase…


A carta chegou às mãos de D. Dulcineia?
Para o saberem lêem o livro, perguntam a alguém que conheça a história ou…aguardam pelo próximo post.


Nota:
Consta que Dulcineia a dama “inventada” por Cervantes, se baseou numa dama que vivia na época, em Toboso e, por quem tinha uma certa atracção. Seu nome seria Aldonza Lorenzo, chamar-lhe-iam abreviadamente Ana, "doce Ana" (se lerem "doce Ana" rapidamente e com sotaque espanholês, soa a dolceana=dulcineia). Não consegui saber se isto é mesmo verdade, Cervantes zangou-se comigo e deixou de me falar...


A carta que transcrevi foi retirada da obra
Dom Quixote de La Mancha, Mel Editores, tendo como tradutores os citados

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