segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O cadáver quer falar

Um processo explosivo que está na Justiça Federal tem em seu conteúdo ligações perigosas entre o Palácio do Planalto, o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz, o secretário da Presidência da República Gilberto Carvalho e a ex ministra da Casa Civil Erenice Guerra envolvidos no desvio de milhões de reais dos cofres públicos através de ONGs especialmente criadas para esses expedientes.
Luiz Carlos Coelho de Medeiros e sua irmã Vera Lúcia Coelho de Medeiros faziam o trabalho de acompanhamento de emendas parlamentares destinadas às ONGs montadas para desviar milhões em verbas públicas. O presidente Lula determinou a nomeação de Vera Lúcia para a Casa Civil, subordinada diretamente a Erenice Guerra, na época secretária executiva no Palácio do Planalto.
O descontingenciamento ficava sob a responsabilidade de Erenice Guerra e Vera Lúcia, que se gaba de desfrutar uma intimidade com o presidente Lula. Dalí as emendas eram liberadas e encaminhadas para Agnelo que ocupava a pasta dos Esportes. Agnelo tinha como um dos coordenadores da operação, na Esplanada dos Ministérios, Luiz Carlos Medeiros, que fazia a verba chegar às mãos dos dirigentes das ONGs, que no final da história retornavam com parte do dinheiro para o então ministro, segundo depoimentos de dois integrantes do bando que saqueava os cofres públicos.
Tudo isso parece estar sob controle de Gilberto Carvalho na Justiça. Mas os dirigentes que operavam para Agnelo estão tirando noites de sono do governador.
O processo que está sob sigilo na Justiça relata uma história triste e capaz de revoltar qualquer pessoa de bem. Uma delegada da cidade–satélite de Sobradinho, no entorno de Brasília, recebeu denúncia de abuso sexual de menores adolescentes. A partir daí iniciou investigação com escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, e coleta de informações de orgias organizadas por empresários. O que a delegada não esperava era deparar-se com um escândalo nacional que passava pelo Palácio do Planalto, Ministério dos Esportes e pelo Governo do Distrito Federal.
A delegada que esperava desvendar um crime local de abuso sexual, confrontou-se com informações que fugiam de sua competência. Foi então obrigada a enviar o inquérito para a DECO – Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado, da Polícia Civil do DF, sob a batuta do delegado Jean Carlo. Aí, começa uma profunda investigação que resultou em ameaças e assassinatos colocando duas testemunhas sob proteção da Polícia Federal.
Jean Carlo escalou dois agentes de sua confiança para infiltrar no bando. Tudo era gravado, filmado, documentado e passado para um grupo de inteligência da Operação batizada de Kung-Fu. O delegado Jean Carlo, da DECO, tinha o controle absoluto da Operação, mas não poderia contar com a descoberta da verdadeira identidade de um de seus agentes infiltrados no bando: Luiz Carlos , o Clark, que foi assassinado durante a Operação.
A morte de Clark aconteceu em outubro de 2009. Como o agente trabalhava infiltrado, na Operação Kung-Fu, o diretor-geral da Polícia Civil, Cléber Monteiro, esteve no local do crime e deu declaração de que o policial poderia ter sido vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). Mas o corpo de Clark foi encontrado entre os dois bancos da frente do carro da Polícia Civil descaracterizado, um Clio prata placa JFT 7515-DF, numa estrada de terra atrás do Condomínio RK, próximo à DF-001 e do Centro de Imagens e Informações Geográficas do Exército (CIGEx), em Sobradinho.
O corpo do agente estava sobre a marcha, com a cabeça voltada para o banco de trás. Além disso, havia uma marca de tiro no peito e quatro cápsulas de bala no chão do carro. O policial foi encontrado com uma arma na mão e estava com o pulso quebrado, o que foi omitido pela perícia no laudo final.
O depoimento da testemunha Michael Vieira da Silva chamou a atenção dos investigadores. O ex-integrante do bando das ONGs, disse que ele próprio teria sido vitima de João Dias, um dos dirigentes da ONG Instituto Novo Horizonte e soldado da PM lutador especialista em artes marciais. João Dias desfruta de um padrão de vida incompatível com o que possa receber em sua função pública: confortável mansão, carros importados e um temperamento capaz de intimidar qualquer pessoa que queira ter vida longa.
Segundo Michael, João Dias o forçou a fazer um depoimento, por escrito, retirando o nome de Agnelo da trama. João, através de um golpe marcial, quebrou o pulso da testemunha tal qual o do agente Clark encontrado morto. Todas essas informações estão à disposição da Justiça nos depoimentos de Michael.
Michael Vieira da Silva contou que outro colaborador do delegado Jean Carlo, Geraldo Nascimento de Andrade, também estava marcado para morrer. O delegado Jean Carlo decidiu resgatar o agente infiltrado e Geraldo, ex-integrante do bando cooptado pela polícia, e colocá-los sob o Programa de Proteção a Testemunha. Geraldo, ex-participante da ONG cooptado pela polícia, foi informado pela esposa de um dos integrantes do bando que sua fotografia já estava nas mãos de matadores contratados para fazer o “serviço”.
A esta altura, Operação Kung – Fu se transforma em Shaolin e sai da Polícia Civil do DF e vai para a Justiça Federal. Lá permanece na mesa do juiz substituto da 10ª Vara enquanto durou a campanha para o Governo do DF.
Joaquim Roriz, candidato que disputava com Agnelo Queiroz a vaga no Palácio do Buriti, colocou o depoimento de Michael em seu horário eleitoral na TV. Em contrapartida entra em cena a história contada pela Revista Quidnovi na semana passada sob o título VOZ DE PRISÃO.
Mais uma vez João Dias,pesadelo de Agnelo, é um dos protagonistas da história. Até chegar ao corre corre na padaria no Sudoeste, bairro nobre de Brasília, muita coisa havia acontecido e está vindo à tona agora.
Marcelo Toledo e o doleiro Fayed chamaram João Dias para se juntar ao grupo que tentava conseguir a alto custo a Secretaria de Segurança Pública, o DF- Trans e a Seguradora do BRB.
Foi oferecido para João, a Seguradora do BRB que poderia gerar de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhões ao mês para o esquema. João topou o negócio, mas por pouco tempo. Numa conversa com Miguel Lucena, presidente da Codeplan, foi prometido uma posição melhor dentro do Governo. Miguel pretendia assumir a Secretaria de Segurança Pública e deixar a Codeplan nas mãos de João Dias.
Lucena levou João Dias para enfrentar Toledo e Fayed, que tinham nas mãos gravações comprometedoras de caixa 2 na campanha de Agnelo. O delegado Lucena traçou o plano com João para dar voz de prisão ao doleiro e a Toledo por tentativa de extorsão. Chamou Fayed para tomar um vinho na Padaria Pães & Vinhos, no Sudoeste, enquanto João Dias ficou do lado de fora aguardando o momento de entrar em cena.
Em paralelo, Toledo telefona para Lucena e começa uma discussão. Em seguida, Toledo chega a padaria a fim de colocar um ponto final na tão esperada resposta de Agnelo. Lucena começa a discutir e o resultado foi parar na 3ª DP. Lá, João Dias demonstrava prestígio com o governador. Exigia que fosse feito um Boletim de Ocorrência colocando Agnelo e Lucena como vitimas de extorsão.
João falava alto e ditava as regras. Mas o delegado Onofre de Moraes não podia fazer o BO porque não estavam na Delegacia nem Lucena nem Agnelo. João Dias então deixa a delegacia dizendo que daria o prazo de uma semana para tudo ficar resolvido. E garantia ter Agnelo em suas mãos.
Agora, Onofre de Moraes, está investigando o caso em sigilo e deve colocar no inquérito o depoimento de todos os personagens.
No final da tarde desta 2ª feira, o governador de Brasília Agnelo Queiroz, durante a inauguração de uma pequena reforma no Hospital da Ceilândia, mostrou-se descontrolado. Xingou os pacientes que cobravam mais atenção da área da Saúde. Disse que os pacientes eram mercenários. O motivo desse descontrole poderia até ser a questão do Sistema de Saúde do DF que está falido. Mas, na verdade, o que incomoda Agnelo é o rumoroso processo que tramita na justiça federal, e que agora poderá vir à tona.
Hoje Agnelo deverá ter uma nova dor de cabeça. Conforme revelou o Quidnovi, na semana passada, o governador continua nomeando todas as pessoas envolvidas em escândalos que possam derrubá-lo da cadeira do Buriti. Segundo o Diário Oficial do DF de 13 de janeiro de 2011, Vera Lúcia foi nomeada para um CNE 07 , como assessora especial da Secretaria de Estado e desenvolvimento Urbano e Habitacional. No DODF de 10 de março de 2011, Vera Lúcia foi remanejada para um cargo de natureza especial com CNE 05. Ela agora é Ouvidora da Secretaria de Transparência e Controle do GDF. Ou seja, escuta as denúncias contra o Governo para que possam ser apuradas.
Fone: www.quidnovi.com.br

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