segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Carnaval e política: tudo a ver. (Tadeu Arruda Câmara)



Não sei por que, quando chega o carnaval, sempre me lembro das campanhas políticas, e quando chegam as campanhas políticas, lembro-me do carnaval. Agora mesmo se aproxima o carnaval e a sensação que me dá é de que vem uma nova eleição. A coisa não é muito difícil de explicar. É que política no Brasil se parece muito com carnaval. Ambos possuem aquele toque anárquico do tudo-pode. No carnaval, temos os foliões, muitos afoitos e destemidos que torcem pelas suas escolas de samba, mantendo a euforia até a quarta-feira de cinzas, dia de escolha da melhor escola. Na campanha política, temos os eleitores, muitos, também, afoitos e destemidos que torcem pelos seus partidos até chegar o dia da eleição. No carnaval, temos os pierrôs, as colombinas e os arlequins. Na política temos os cabos eleitorais, os eleitores e os chefes políticos. No carnaval, o arlequim, personagem da Commedia dell’Arte (Itália), que trai o pierrô, roubando-lhe sua colombina. Na política, temos os eleitos enganando o povo.
Não podemos deixar de citar que no carnaval, assim como na política, a força geratriz é o dinheiro. Dinheiro quase sempre sujo, caixa dois. No carnaval vem do jogo do bicho, uma maneira de suavizar a pesada imagem do bicheiro no mundo da contravenção. Na política, vem das construtoras, uma via de duas mãos: uma leva a doação a outra faz o retorno com o sofrimento do povo brasileiro. Essa história de liderança política sem dinheiro, principalmente no Rio Grande do Norte, é conversa pra boi dormir. Eu vi Aluízio Alves, maior expressão política do Estado, não conseguir eleger um neto vereador em Natal. Mais tarde, entrevistado por um canal de televisão, respondeu a um jornalista que não elegeu o neto porque não teve prestígio. Foi aí que comecei a entender a grandeza de um homem chamado Aluízio Alves.
A capital do carnaval é a cidade do Rio de Janeiro, com sua Avenida Marquês de Sapucaí, cujo Sambódromo foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. A capital política do Brasil é Brasília, também projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Note que os políticos de Brasília sempre aparecem na Sapucaí, buscando popularidade, e os da Sapucaí em Brasília, buscando sobrevivência.
A semelhança entre política e carnaval é tão grande que o Estado de São Paulo, nosso maior polo industrial, elegeu o palhaço Tiririca como deputado federal mais votado da história do Brasil. É protesto ou voto consciente? Pode até ser carnaval fora de época.
Não podemos deixar de falar da figura do palhaço. Este, sim, o grande elenco formador de nossa sociedade. Lembro um dia, hospedado num hotel de terceira categoria em São Paulo, em busca de trabalho, tempos difíceis, acordo, alta madrugada, e na cabeceira de mesa encontro um livro, já amarelado pelo tempo, e leio uma frase de Charles Chaplin: “Eu continuo sendo apenas um palhaço, o que me coloca em nível bem mais alto do que o de qualquer político”. No silêncio daquela noite, pude refletir o quanto somos palhaços. Fomos palhaços quando uma ministra totalmente desequilibrada e um presidente tido como louco e corrupto confiscaram todo o nosso dinheiro, deixando toda a população abobalhada. Vai fazer isso em outra nação, vai? Fomos palhaços quando um governo incompetente cuja música de campanha dizia que soprava um vento forte no Rio Grande do Norte e que esse vento mudaria nossa sorte. Esse vento só trouxe perseguição à classe de professores e quebrou nosso maior patrimônio, o Bandern – Banco do Estado do RN. Fomos palhaços quando um grupo de grandes devedores, apelidados de empresários, não querendo pagar altas somas ao BDRN – Banco do Desenvolvimento do RN – resolveu simplesmente fechá-lo, deixando as dívidas pelos labirintos insondáveis da corrupção. Enquanto isso, aquela senhora que furtou uma lata de sardinha no supermercado, para matar a fome de uma criança faminta, passou seis meses na penitenciária.
As máscaras são comuns tanto nos foliões como nos políticos. Nos foliões são confeccionadas a caráter, conforme a imaginação, a fantasia. Nos políticos, nascem com eles, fazendo parte de sua personalidade. Observe um encontro com um político antes de uma eleição, sorriso fácil, sempre com perguntas, “por onde anda você? Precisamos conversar, você some!” Passada a eleição, cara fechada, ar de preocupação, um leve aceno. Pensamos até ser uma outra pessoa.
Por todas essas coisas concordo com Moacir Franco, nossa vida é um carnaval, também sopraram cinzas no meu coração e os clarins silenciaram quando caiu a máscara de minha ilusão. Talvez em outro dia os clarins voltem a tocar e uma nova máscara usarei para esconder uma nova dor.

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