Hoje
estou com um desejo enorme de recolher-me no meu quarto e rever todos os
acontecimentos de minha vida, da minha infância já distante, até aos sessenta e
dois anos que acabo de completar. A natureza foi pródiga comigo, deu-me uma
memória fantástica; lembro-me de quase tudo, desde os acontecimentos menos
significativos até os de grande relevância da infância, adolescência e idade
adulta.
Na
infância, tudo é novidade, estamos descobrindo o mundo, vivemos na dependência
dos outros, geralmente dos nossos pais. Se você perguntar se a minha foi boa,
posso responder que enfrentei períodos tumultuados. Meu pai era um homem
autoritário, um verdadeiro déspota. Certo dia, criei coragem e perguntei a ele
por que ele era daquele jeito. Ele respondeu que me criava da mesma maneira que
o pai dele o havia criado e encerrou rapidamente a conversa.
Na
adolescência, a coisa melhorou um pouco; já criava ares de homem formado, barba
crescida, frequentava o antigo curso ginasial, o primeiro grau de hoje. Já
tinha um norte aonde seguir. Criava, em torno de mim, uma plêiade de amigos;
muitos deles ainda conservo até hoje.
Quando
cheguei à idade adulta, já era independente, saindo da tutela de meus pais
criando meu próprio sustento. Sempre fui assim, não tolero ocupar pessoas,
sejam elas quem for, parente ou amigos.
O dia de
hoje enche-me de reflexões. É a luzinha amarela dando sinal de que a pista não
tarda a terminar. Vivo a vida intensamente. Amei mais do que odiei. Sorri mais
do que chorei. Sinto que grande parte do meu passado não passou ainda. Onde
existe dor, o passado não termina. Um dia, escutei papai lendo a Bíblia dizendo
feliz do homem que consegue morrer entre as doces ovelhinhas que criou. Com o
passar do tempo, entendi tão profunda citação. Sei que as ovelhinhas são nossos
filhos.
O meu
maior presente é estar de bem com Deus. É agradecer a Ele pela família que
tenho. É dizer-lhe que aquilo que Ele me deu foi muito maior do que eu pedi.
Quando
começamos a entender o verdadeiro sentido da vida, notamos que viver é mudar.
Somos seres animados. Todos os dias, mudamos. A morte não existe. Ela é apenas
um entroncamento de duas vias, uma terminando e outra começando com o nome de
“Os Mistérios de Deus”.
Adoro as
artes. Gosto de ler. Ler faz parte de minha personalidade. Não é a toa que
hoje, catorze de março, é o dia da poesia! É meu dia também.
Obrigado, meu Deus, por mais um
ano de vida!
TADEU ARRUDA CÂMARA
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