sexta-feira, 4 de março de 2011

Saudade. (Tadeu Arruda câmara)

Na língua portuguesa não existe nenhuma palavra mais sonora, doce e ao mesmo tempo amarga do que a palavra saudade.
Muitas são as definições: é um sentimento de falta; é levar dentro do coração a presença de um ente querido; é sentir emoção de um amor perdido; é aquele passado sempre lembrado. São muitas definições que povoam nossas cabeças (frases feitas). Mas para mim, nenhuma traduz com tanta exatidão como a resposta de uma criança de três anos de idade.

Dia desses, dou de cara com uma velha amiga dos tempos de colégio. Papo vai, papo vem, começam os assuntos. Perguntei, dando início a conversa, pela família. Ela respondeu que estava tudo bem. Falou-me de um neto que era uma gracinha, sapeca e divertido. Disse-me que numa tarde, chegando em casa, deparou-se com o bruguelo gritando: “Ainda bem que você chegou, vovó, eu estava morrendo de saudade”. Ora, ela disse que imediatamente perguntou se ele sabia o que era saudade. Ele respondeu que sim e foi dizendo: “Saudade é procurar você e não encontrar”.

Pois bem, faço minhas as palavras daquele menino, que, na inocência dos seus três anos de idade, nos deixa uma lição de vida. Digo que saudade é procurar meu pai, Armando Arruda, ensinando-me os caminhos do bem, da ética. Saudade é procurar mamãe Mariana fazendo uma macarronada, meu prato preferido, e não encontrar mais. Saudade é procurar meus amigos de infância, lá em Nova Cruz, nas peladas onde a bola era feita de meia e molambo, e não encontrar mais. Saudade é correr para o rio Curimataú e não ver mais enchente. Saudade é ir à rua grande de Nova Cruz e não mais encontrar a feira. Saudades dos dias que aniversariava e minha madrinha Joanita Arruda, na sua meiguice, perguntando qual o presente que desejava. Lembro-me do anel com que ela me presenteou quando tinha mais ou menos oito anos, perdendo logo em seguida no percurso da escola. Ainda hoje sinto o sabor salgado das lágrimas que derramei.

Da minha infância sinto saudades até da palmatória chamada “Carolina”. Errou, ia pro cacete, não tinha perdão. Vivia pendurada em local visível na sala de jantar, exigindo respeito.

Não podia deixar de falar no circo. Ele chegava todo ano e com ele vinha o alegre palhaço caminhando pelas ruas e cantando:
“O raio, o Sol suspende a Lua, olha o palhaço no meio da rua!” E dizia mais: “Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor! Hoje tem marmelada? Tem sim senhor! Hoje tem farofada? Tem sim senhor! E o palhaço o que é? É ladrão de mulher!” E arrocha minha gente! Tudo isso não sai de minhas lembranças. Numa dessas passagens do circo, recordo do cachorro chorão, totalmente desprovido de pelos. Foi doado à Tia Joanita pelo proprietário do circo. O circo partiu e Chorão ficou fazendo sucesso na arte de agradar. Chamava atenção pela sua aparência. Era um barato prá toda meninada.

E o trem? Toda meninada corria para ver a Maria Fumaça passando engolindo brasa e soltando fumaça. E nós na maior alegria, escutávamos o barulho que parecia dizer: café com pão, bolacha não; café com pão, bolacha não; café com pão, bolacha não...

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